Casa amarela, porretes do vovô Renato no terraço, piscina de cimento.
Noites em claro. Tranca, crapô e brincadeira do copo.
Requeijão da Paula no fogão de lenha, brigadeiro de colher, picolé de groselha.
Bambu para derrubar pitangas, bichos de goiaba e jabuticaba no pé.
Barquinhos de papel atravessando o reguinho d’água.
Sapo Onofre comendo besouros.
Leite direto da teta da vaca nos copos com Nescau e açúcar.
Bel, prima, quase irmã, cúmplice de aventuras e delícias.
Muitas histórias, muitas recordações. Mas uma delas nos faz ter ataques de riso até hoje. Nossa, como tínhamos ataques de riso!
Um dia, com uns 8 ou 10 anos fomos brincar de Saci-Pererê. Bel e eu, inteirinhas de lama. Que lambuzeira! Ficamos pretinhas, pretinhas.
Pulávamos sem parar na beirada da piscina em um pé só, sempre desequilibrando e caindo. Só faltava a carapuça vermelha.
Barulho de carro. Buzina. Um carrão preto estaciona na frente da casa.
Era ela, a tia Regina, nossa tia-avó chiquérrima! E nós, pretinhas, pretinhas...
Podia ser qualquer pessoa, menos a tia Regina...
- Quem são esses moleques na piscina, Bibi?
(Bibi era nossa avó, só a irmã Regina a chamava assim, para os netos era Vovó Helena e para os bisnetos foi Dadá).
Vovó nos afrontou com o olhar e disse apenas:
- Vamos tomar um refresco, Regina.
Rimos.
Tia Guta, minha madrinha e mãe da Bel, apareceu.
- Meninas, pulem já na água e se arrumem! Tia Regina está aqui! Vocês precisam ter modos!
Logo depois estávamos lindinhas servindo refresco de limão para as senhoras de colar de pérola. Na fazenda ou na cidade, sempre impecáveis.
Mas será que sempre foram assim? Será que um dia se sujaram de lama? Comeram jabuticaba até ter dor de barriga? Passaram a noite em claro jogando cartas?
Vovó virou estrelinha o ano passado. Nunca perguntei para ela. Mas tia Regina continua impecável aos seus 89 anos.
Vou já colocar uma roupa nova, meu colar de pérolas e visitar minha tia. Antes vou ligar para Bel.
Ilustração: Malu Yazbek |
Depois de um período (férias) sem postar histórias, escolhi essa por falar justamente sobre férias. Essa história realmente aconteceu na Fazenda São Francisco, onde passei grande parte da minha infância e adolescência, quase sempre na companhia na minha prima Bel.
Bons e saudosos tempos...
Obviamente a história real foi floreada para, como diria meu professor Marcelino Freire, virar literatura...
Espero que esta seja a primeira de muitas postagens deste ano!
Eu estava com muitas saudades desse blog e de minhas histórias...
3 comentários:
Adorei participar de uma historia sua e adorei a historia.
É sempre gostoso lembrar das nossas bagunças de infancia, principalmente as da fazenda. Como nos divertíamos!!!
Bj, saudades.
Bel
Bela história e narrativa, Yazbek!
Mário Nascimento
Bela história e narrativa, Yazbek!
Mário Nascimento
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