Gordo, narigudo, olhos enormes e orelhas pontudas.
Era uma vez um lobo mau, muito mau.
Morto de fome, ele caminhava pela floresta procurando algo para encher a sua pança.
Procurou gambás, esquilos e ratinhos.
Procurou até os 3 Porquinhos e a Chapeuzinho Vermelho.
Nada encontrou.
Sua barriga roncava tão alto que seus próprios pelos estavam arrepiados de tão assustados.
Embaixo de uma mangueira, D. Celina, contava histórias para a sua neta, quando escutou um ronco assustador, que mais parecia o estrondo de um trovão.
- Você está escutando, Lili? Acho que vai chover. Melhor voltarmos para casa.
- Não, vó! Termina a história!
- Não dá tempo, querida. Corre! Rápido! Vamos!
E elas correram, correram muito.
Quando Lili olhou para trás, viu o lobo esparramado no chão.
Ele tinha tropeçado no livro de histórias que sua avó tinha deixado cair.
Quando o lobo percebeu que não conseguiria mais alcançá-las, resolveu engolir aquele livro mesmo. Estava faminto.
E foi o que fez. Deglutiu com uma bocada só um livro com 34 contos de fadas.
Depois da comilança, tirou um cochilo. Deitou com aquele barrigão peludo para cima, que agora, de tão satisfeito, não roncava mais.
Quando acordou, se sentiu um pouco diferente. Mas não sabia o que era.
Caminhou, e sem perceber, começou a cantarolar no meio das árvores. Cantava e dançava com passarinhos e coelhos, quando disse:
- Vocês sabem onde fica a casa dos anões? Preciso encontrar um local para dormir, pois o caçador está atrás de mim. Disse com uma voz bem fininha.
Quando percebeu o que tinha feito, saiu correndo.
- Meu Deus, o que aconteceu? Será que virei aquela princesa chatinha da Branca de Neve. “Pele branca como a neve, lábios vermelhos como a rosa”. Uma maçã envenenada eu não vou comer! Não! Não é possível!
- Eu sou um lobo mau, muito mau!
Quando se olhou no espelho, ficou mais calmo, viu que sua aparência estava a mesma. Medonha.
Continuou caminhando, quando viu um pé de feijão.
- Nossa, o meu pé de feijão cresceu até o céu, vou escalar para encontrar aquele gigante e sua galinha de ovos de ouro.
Caiu em si mais uma vez.
- O que estou fazendo? Estou fazendo o papel daquele menino sonso que trocou uma vaca por grãos de feijão? Não! Ainda que eu fosse o gigante... Pelo menos ele é mau, como eu.
- Eu sou um lobo mau, muito mau!
Acho que estou ficando maluco. Branca de Neve, João e o pé de feijão. O que mais vai acontecer comigo?
- Cabe no meu pezinho sim! Esse sapatinho de cristal é meu!
- Mas o seu pé é enorme, seu lobo. Olhe as suas unhas, compridas e afiadas. Nem a sua unha do mindinho cabe nesse sapatinho!
- Como não? Eu sou a Cinderela! Estive ontem no baile dançando com o príncipe, a abóbora virou carruagem, os ratinhos se transformaram em cavalos brancos. Bibbidi-Bobbidi-Boo! Foi o que fez a fada madrinha!
Será que ela que fez isso comigo? Será que essa fada madrinha me enfeitiçou? Pensou o lobo. Quando mais uma vez, percebeu o papel ridículo que estava fazendo, gritou alto, muito alto:
- Eu sou um lobo mau, muito mau!
- EU SOU MAU!
Ainda no finalzinho do grito, sentiu uma forte dor de barriga e tentou lembrar a última coisa que tinha comido.
Foi quando caiu a ficha.
- Foi aquele maldito livro! Eu engoli muito rápido, mas li o título: 34 CONTOS DE FADAS!
- Estou perdido... Logo mais vou ter tranças, vou enfiar o dedo numa roca, ai, que medo, vai doer! Melhor eu cuspir logo esse livro antes que eu me afogue no oceano, uma sereia, não! É demais para mim!
- Eu sou um lobo mau, muito mau!
O lobo desesperado fez uma força danada e conseguiu.
O livro inteirinho saiu pela sua goela.
- Ufa!
Já cansado, depois de tanto esforço, o lobo sentou, colocou seus óculos de grau e resolveu ler o tal livro.
Leu. Cada uma das 34 histórias. E para a sua surpresa, gostou. Percebeu, que no final, todo mundo que é mau, acaba se dando mal.
A partir desse dia, sempre que alguém sai correndo de perto dele, ele grita, sem assustar:
- Eu sou um lobo bonzinho! Bonzinho, muito bonzinho.
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Ilustração: Sofia Fortunato Herweg |
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Ilustração: Mari e Malu Yazbek |