Ontem escutei a mamãe brigando de novo com o Guigo.
- Mamãe, eu quero!
- Guilherme, não pode!
- Eu vou!
- Não vai!
- Eu quero!
- Vai ficar querendo!
Mas uma coisa que mamãe falou eu não entendi.
- Menino, mentira tem pernas curtas!
Tô pensando até agora...
Quem será essa tal Mentira que tem pernas curtas?
Vovó vive dizendo que é baixinha, que tem pernas curtas, mas ela chama Regina e não Mentira.
A professora do meu irmão também é pequenininha. Acho que o nome dela é Maria Antonieta. Será o apelido? O sobrenome?
Não, acho que não.
Acho melhor eu perguntar. Adultos sempre sabem.
- Mamãe, quem é a Mentira que tem perna curta?
- O que, minha filha?
- Quem é Mentira, mamãe?
- Mentira é uma coisa muito feia, horrorosa, dá até medo.
- Tipo um monstro ou bicho-papão?
- Isso mesmo. Um monstro que cresce dentro da gente e é difícil se livrar dele.
- Credo. Eu que não quero conhecer essa tal de Mentira. Além de ter as pernas curtas, parece um bicho-papão, deve até ser narigudo.
Durante algum tempo, imaginei a Mentira um monstro narigudo, com orelhas de elefante, nariz de porco e três pernas bem curtinhas, todo de madeira, que entra dentro da gente e não sai mais.
Quando descobri de verdade o que era mentira, achei que mamãe tinha mentido para mim.
Foi só olhar para ela que percebi que não.
Afinal, mamãe tem pernas tão compridas...
Afinal, mamãe tem pernas tão compridas...
Escrevi esta história em um curso sobre Literatura Infantil, que fiz com Ricardo Ramos Filho, escritor infantil, neto de Graciliano Ramos. Ele nos deu o tema "mentira tem pernas curtas" e tivemos apenas 20 minutos para desenvolver. Foi gratificante, ao final da leitura da minha história, escutar: Bem legal. Você entrou muito bem dentro do universo infantil, usando a ideia de trasnsformar a mentira em alguém, afinal se ela tem pernas curtas...Você está de parabéns!
2 comentários:
Lindo, terno, como tudo que você escreve.
Saudade de ouvir mais e mais.
Beijos
Oi, Adriana, retribuindo sua visita ao Gato de Sofá encontrei um texto delicioso, que me lembrou meu filho Antônio, de 3 anos. Quando ele solta das suas, o irmão de 9 anos olha divertido e sentencia: "O Antônio é muito mané." Mas é um mané que a gente ama. bjs
Luciana Conti
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